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O Autismo e a Igreja!

Leila Rodrigues de Souza Ramos
Docente SEBAC

Dias atrás ouvi o relato de uma mãe que dava conta de que, ao retornar a sua igreja, casada e com dois filhos autistas, depois de abandonar seu convívio na juventude, ouviu de seus “irmãos” que “deveria frequentar os cultos sozinha, sem a presença dos filhos. Também ouvi que seus filhos foram “exorcizados” devido as estereotipias e ecolalias tão peculiares à esta Síndrome. Observem que tais comportamentos reporta-nos aos idos das sinagogas judaica, ou quiçá à Comunidade veterotestamentária em que pessoas diferentes não tinham livre acesso a vida social.

O fato é que tal comportamento é recorrente em nossos dias. Uma sociedade, que apesar do esforço de muitos e alguns avanços, encontra-se despreparada para aquilo que denominamos: Inclusão: A inserção dos diferentes no hemisfério igualitário.

A igreja como organismo vivo que age e reage em sua comunidade, que promove novos e rejeita velhos paradigmas não pode esquivar-se de aprender e reaprender a graça de abraçar aos muitos que vem a este mundo com intuito de que “a obra de Deus se manifeste nele.”  (João 9: 3)

Autismo o que é?

A palavra “Ausmo” é de origem grega “autos” e significa “por si mesmo”.

É um termo usado dentro da Psiquiatria para denominar comportamentos humanos que se centralizam em si mesmos, voltados para o próprio indivíduo.

Segundo AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é caracterizado por alterações qualitativas nas seguintes áreas:

  • Habilidades de interação social
  • Dificuldades de comunicação
  • Engajamento em comportamentos repetitivos e estereotipados.

Quer dizer que são três as áreas de dificuldade do autista das quais falaremos posteriormente.

A Síndrome pode afetar crianças de qualquer raça ou cultura e a expressão dos sintomas pode variar de leve a severo através dessas três áreas fundamentais. É um transtorno invasivo do desenvolvimento que persiste por toda vida, incurável e, não possui causas conhecidas, porém terapias que trabalham na redução dos comportamentos indesejados têm sido frutíferas e aberto caminho para convivência social do portador.

No Brasil, não existe uma estimativa epidemiológica oficial (BRASIL, 2013), mas o número de brasileiros afetados pelo autismo também vem aumentando; em parte pelo maior acesso às informações sobre o transtorno e às ferramentas de identificação precoce ligadas ao desenvolvimento tecnológico que permite estudos mais avançados do cérebro humano.

Dificuldades na Inclusão

Devido à dificuldade de comunicação, o autista, geralmente dependendo do nível, pode apresentar, segundo Encarte da Academia do Autismo:

  • comportamento agressivo
  • falta de contato visual com outras pessoas
  • irritabilidade
  • repetição de palavras (sem que haja um sentido)
  • aversão ao som alto
  • imitação involuntária de movimentos
  • hiperatividade 
  • dificuldade de aprendizagem
  • dificuldade em lidar com mudança (de planos, de casa, de horários, de escola, etc.)
  • atraso na capacidade da fala
  • manifestação de emoções extremas (em ocasiões onde não deveriam acontecer)
  • perda da fala
  • falta de atenção
  • interesse intenso em coisas específicas
  • depressão
  • falta de empatia
  • ansiedade
  • costume de andar na ponta dos pés
  • tiques
  • manias nervosas

Assim fica claro como num ambiente formal como um templo religioso, onde sons são a grande tônica, cumprimentos, abraços e interação social, incluir um autista requer preparo e uso das técnicas eficazes.

Claro que, aparelhos como fones resolveriam em parte o problema da sonorização incomodante, mas incluir pessoas especiais não pode fugir a um rigoroso processo de aceitação, conscientização e adaptação de toda comunidade eclesiástica.

Por que incluir?

A Declaração de Salamanca, que é considerada um marco no que diz respeito a universalização dos direitos à inclusão, ocorrida na Espanha (Cidade da Salamanca/1994) é um documento da ONU (Organização das Nações Unidas) de 1994 representado por 88 governos e 25 instituições, em que descreve sobre  “Regras Padrões sobre Equalização de Oportunidades para Pessoas com Deficiências”, e institui que os “Estados assegurem que a educação de pessoas com deficiências seja parte integrante do sistema educacional.”

Ora, a igreja como instituição educacional que ministra sobre o ensino eterno e verdadeiro não deve abrir mão de incluir os Autistas, considerando o exemplo do seu  Fundador que: Chamou para o meio um “maneta” (deficiente físico/ Marcos 3:1-5), deu esperança a uma mulher corcunda (deficiente físico / Lucas 13:10-17) e o que dizer da vida nova dada a um excluído de sua família, da sua cidade, condenado  por mal milenar chamado lepra e este também excluído e vilipendiado por qualquer judeu por ser samaritano  (deficiência contagiosa e cultural). O que dizer dos cegos, surdos-mudos, endemoniados, paralíticos.

O que dizer de nós? Um dia, quando éramos cegos espirituais, paralíticos morais, corcundas pelo peso de nossas dores emocionais, surdos insensíveis à Deus, emudecidos por nossas faltas, leprosos pelas transgressões e doentes terminais pelo câncer do pecado.

Só o fato de representar quem representamos (Jesus Cristo) deve levar o nosso coração transcender e refletir sobre os autistas:

  • No plano eterno: Tem uma alma. 
  • No plano espiritual: Precisa de um ambiente que cresça na “graça e conhecimento”. 
  • No plano físico: Apesar das dificuldades com o “toque” precisa sentir o amor que o compreende além do contato físico; o amor que se revela na compreensão de suas limitações e habilidades.

Concluindo… lembram da mãe citada no início deste artigo, pois bem, ela encontrou uma Igreja Inclusiva que além de aceitar os seus filhos, eles foram incluídos no Sistema de Ensino Bíblico, e esta mãe também inclui outros e é participante de um projeto missionário para crianças especiais! Glória a Deus!

Referências: