Dias atrás ouvi o relato de uma mãe que dava conta de que, ao retornar a sua igreja, casada e com dois filhos autistas, depois de abandonar seu convívio na juventude, ouviu de seus “irmãos” que “deveria frequentar os cultos sozinha, sem a presença dos filhos. Também ouvi que seus filhos foram “exorcizados” devido as estereotipias e ecolalias tão peculiares à esta Síndrome. Observem que tais comportamentos reporta-nos aos idos das sinagogas judaica, ou quiçá à Comunidade veterotestamentária em que pessoas diferentes não tinham livre acesso a vida social.
O fato é que tal comportamento é recorrente em nossos dias. Uma sociedade, que apesar do esforço de muitos e alguns avanços, encontra-se despreparada para aquilo que denominamos: Inclusão: A inserção dos diferentes no hemisfério igualitário.
A igreja como organismo vivo que age e reage em sua comunidade, que promove novos e rejeita velhos paradigmas não pode esquivar-se de aprender e reaprender a graça de abraçar aos muitos que vem a este mundo com intuito de que “a obra de Deus se manifeste nele.” (João 9: 3)
Autismo o que é?
A palavra “Ausmo” é de origem grega “autos” e significa “por si mesmo”.
É um termo usado dentro da Psiquiatria para denominar comportamentos humanos que se centralizam em si mesmos, voltados para o próprio indivíduo.
Segundo AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é caracterizado por alterações qualitativas nas seguintes áreas:
- Habilidades de interação social
- Dificuldades de comunicação
- Engajamento em comportamentos repetitivos e estereotipados.
Quer dizer que são três as áreas de dificuldade do autista das quais falaremos posteriormente.
A Síndrome pode afetar crianças de qualquer raça ou cultura e a expressão dos sintomas pode variar de leve a severo através dessas três áreas fundamentais. É um transtorno invasivo do desenvolvimento que persiste por toda vida, incurável e, não possui causas conhecidas, porém terapias que trabalham na redução dos comportamentos indesejados têm sido frutíferas e aberto caminho para convivência social do portador.
No Brasil, não existe uma estimativa epidemiológica oficial (BRASIL, 2013), mas o número de brasileiros afetados pelo autismo também vem aumentando; em parte pelo maior acesso às informações sobre o transtorno e às ferramentas de identificação precoce ligadas ao desenvolvimento tecnológico que permite estudos mais avançados do cérebro humano.
Dificuldades na Inclusão
Devido à dificuldade de comunicação, o autista, geralmente dependendo do nível, pode apresentar, segundo Encarte da Academia do Autismo:
- comportamento agressivo
- falta de contato visual com outras pessoas
- irritabilidade
- repetição de palavras (sem que haja um sentido)
- aversão ao som alto
- imitação involuntária de movimentos
- hiperatividade
- dificuldade de aprendizagem
- dificuldade em lidar com mudança (de planos, de casa, de horários, de escola, etc.)
- atraso na capacidade da fala
- manifestação de emoções extremas (em ocasiões onde não deveriam acontecer)
- perda da fala
- falta de atenção
- interesse intenso em coisas específicas
- depressão
- falta de empatia
- ansiedade
- costume de andar na ponta dos pés
- tiques
- manias nervosas
Assim fica claro como num ambiente formal como um templo religioso, onde sons são a grande tônica, cumprimentos, abraços e interação social, incluir um autista requer preparo e uso das técnicas eficazes.
Claro que, aparelhos como fones resolveriam em parte o problema da sonorização incomodante, mas incluir pessoas especiais não pode fugir a um rigoroso processo de aceitação, conscientização e adaptação de toda comunidade eclesiástica.
Por que incluir?
A Declaração de Salamanca, que é considerada um marco no que diz respeito a universalização dos direitos à inclusão, ocorrida na Espanha (Cidade da Salamanca/1994) é um documento da ONU (Organização das Nações Unidas) de 1994 representado por 88 governos e 25 instituições, em que descreve sobre “Regras Padrões sobre Equalização de Oportunidades para Pessoas com Deficiências”, e institui que os “Estados assegurem que a educação de pessoas com deficiências seja parte integrante do sistema educacional.”
Ora, a igreja como instituição educacional que ministra sobre o ensino eterno e verdadeiro não deve abrir mão de incluir os Autistas, considerando o exemplo do seu Fundador que: Chamou para o meio um “maneta” (deficiente físico/ Marcos 3:1-5), deu esperança a uma mulher corcunda (deficiente físico / Lucas 13:10-17) e o que dizer da vida nova dada a um excluído de sua família, da sua cidade, condenado por mal milenar chamado lepra e este também excluído e vilipendiado por qualquer judeu por ser samaritano (deficiência contagiosa e cultural). O que dizer dos cegos, surdos-mudos, endemoniados, paralíticos.
O que dizer de nós? Um dia, quando éramos cegos espirituais, paralíticos morais, corcundas pelo peso de nossas dores emocionais, surdos insensíveis à Deus, emudecidos por nossas faltas, leprosos pelas transgressões e doentes terminais pelo câncer do pecado.
Só o fato de representar quem representamos (Jesus Cristo) deve levar o nosso coração transcender e refletir sobre os autistas:
- No plano eterno: Tem uma alma.
- No plano espiritual: Precisa de um ambiente que cresça na “graça e conhecimento”.
- No plano físico: Apesar das dificuldades com o “toque” precisa sentir o amor que o compreende além do contato físico; o amor que se revela na compreensão de suas limitações e habilidades.
Concluindo… lembram da mãe citada no início deste artigo, pois bem, ela encontrou uma Igreja Inclusiva que além de aceitar os seus filhos, eles foram incluídos no Sistema de Ensino Bíblico, e esta mãe também inclui outros e é participante de um projeto missionário para crianças especiais! Glória a Deus!
Referências:
- Bíblia Sagrada
- http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf
- http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf
- https://academiadoautismo.com.br
- Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais:DSM-5 [recuros eletrônico/Americn Psychiatric Association: Tradução Maria Inês Correa…et al 5ed- Porto Alegre. Artmed,2015